Era uma menininha assim: pequena, branquinha de cabelos e olhos bem negros. Sonhava com castelos, príncipes e princesas e falava sempre num mundo distante onde tudo era possível, principalmente ser feliz e viver aventuras.
Nos seus sete anos de idade e 1,37 m de altura, Estrela se divertia com suas histórias imaginárias, mas infelizmente, nem todos os seus amiguinhos acreditavam nessas histórias. Achavam que era tudo bobagem, pois esse negócio de contos de fadas, castelos de reis ou de bruxas era coisa do tempo da vovó que criava tudo isso só pra ver seus netos quietinhos.
Estrela não se incomodava com os comentários de seus amiguinhos e tão pouco com a cara de desprezo de sua professora de leitura, quando pedia na sala de aula que escrevessem um texto e fizessem a leitura do mesmo para que outros colegas ouvissem. Quando chegava esse momento, Estrela era a primeira a se oferecer para partilhar a leitura do que escreveu e, quando isso acontecia, sempre ouvia murmurinhos pela sala: “Há não! De novo?! Lá vem mentira! Lá vem besteira!”. Ela não tinha ouvidos para isso.
A imaginação da criança parecia não ter fim. Em casa, Estrela conversava com seus amigos imaginários sempre. Cantava, dançava, ria e chorava. Seus coleguinhas acabaram afastando-se dela: nem tarefas nem atividades grupais... Estrela agora estava sozinha em seu mundo imaginário. Um mundo onde a beleza de ser criança podia ser visto e vivido em sonhos que em nada a envergonhava. A infância que tantas outras crianças haviam perdido em redes sociais, jogos de computadores, pornografias e sexo escancarado livre a todas as idades em emissoras de televisão. Infelizmente, nem todos percebiam que isso não era loucura. Estrela era apenas uma criança, agora, com nove anos de idade, que vivia sua idade cronológica sem vergonha.
Um dia, seus pais foram convidados pela direção da escola para uma conversa. Pediram que levasse Estrela para um psicólogo, pois ela não estava bem. Ela surtava em sala de aula. Vivia sorrindo e abraçando a todos. Nunca brigava, nunca falava mal de ninguém e, tão pouco dizia palavrões. Dizia amar a todos e que gostaria que seus colegas e professores fossem tão felizes quanto ela era com seus sonhos e suas fantasias. Nesse momento, dos olhos de seus pais sairam lágrimas. A diretora comovida com a situação disse-lhes para não preocupar-se, pois com cuidados especiais isso tudo acabaria e Estrela voltaria ao normal. Os pais da criança esboçaram um sorriso e ainda com lágrimas nos olhos, disseram para aquela mulher a sua frente que se elas caiam por seus rostos não era pelo fato de acharem que sua filha estava louca, era por terem certeza que o mundo em que sua filha vivia era bem mais normal que o mundo vivido hoje, por crianças da mesma idade. Ela era normal, pois acreditava nos sonhos e nas fantasias. Estrela era uma criança feliz que não se iludia com amizades virtuais, apesar de ter computador. Estudava e tirava boas notas, mas ao contrário de outras crianças de sua idade, sua mente estava ainda fechada para os absurdos que o mundo moderno ensina. As lágrimas que desciam de seus rostos eram de agradecimento por Deus ter-lhes dado como pai e mãe, uma filha normal, uma criança normal. Quando perguntaram a diretora se quando criança ela costumava sonhar, ela sorriu e disse que sim, mas nos sonhos de crianças da idade de Estrela, hoje, não cabiam princesas, príncipes e castelos. Não cabiam brincadeiras de roda, cantigas de roda... Para seus coleguinhas de sala, Estrela não era tão normal quanto eles.
A partir desse dia, nunca mais vira naquela escola a menina de nove anos que cantava, brincava, dançava e sonhava como uma criança normal de nove anos de idade.
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