Santa Vitória

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quinta-feira, 7 de julho de 2011

NA VERDADE

Na verdade, quando meu filho perguntou minha opinião sobre o fato da mídia – no caso, a televisão – fazer do sofrimento dos outros uma vantagem para conseguir índices altíssimos de audiência, falei qualquer coisa que me pareceu naquele momento não lhe agradar, pois ele me olha com uma cara de poucos amigos e balbucia palavras estranhas. Meus pensamentos naquele momento estavam inquietos. Eu estava preocupada e nem conseguia raciocinar direito.

Levantei-me do sofá encardido – não por causa do tempo. É que em casa, todos deitam nos sofás para assistir a televisão de qualquer jeito: descalços, pés sujos... Fui até uma salinha pequena que fica antes da cozinha e fiquei em frente à capelinha de Nossa Senhora – uma vez por mês, durante os doze meses do ano, recebemos a visita dela em nossa casa – e nada falei. Não conseguia rezar! Só olhava e, lágrimas desciam de meus olhos. Meu coração batia tão rápido que tive medo. Continuava olhando e pedindo em silêncio que ela, Maria, me mostrasse uma forma de não desistir. Minha mente estava cansada e meu corpo, esse já não conseguia mais suportar o peso da dor, o peso da culpa, da fraqueza humana que naquele instante era minha.

De repente, ouvi barulho. Meus filhos discutiam entre si porque um vestira a roupa do outro - são dois rapazes: um de quase vinte e outro de quinze. Saí de estava e fui para meu quarto. Não aguentava mais! Queria fugir e ter um pouco de paz.

Em meu quarto deitei-me em minha cama e coloquei em meu rosto um lençol, como se dessa forma todos os fantasmas e pesadelos dos últimos tempos pudessem sumir. Quando o sono começa a me embalar, minha filha de quinze anos entra gritando e reclamando que seus irmãos não calam a boca. Coloco as duas mãos sobre minha cabeça para que meu desespero não ultrapasse a razão e minha linda filha não seja alvo de minha íntima agonia. Não consigo conter as lágrimas! Olho para aquela mocinha linda e penso: – acho que como todas as mães em desespero – onde foi que errei?

Minha menina olhando para mim como se me julgasse culpada por aquela situação ridícula e eu, me sentindo realmente culpada por não ter conseguido dar aos meus filhos a educação que eu tivera de minha amada mãe.

Resolvi deixar de lado minhas lamentações e voltei até a sala onde meus dois filhos continuavam discutindo num tom de voz não muito educado sobre qual dos três filhos dava mais desgosto aos pais: os meninos ou a menina. Quando aumentei o tom de voz pedindo para que parassem, me acusaram de ser culpada por agirem assim, afinal, eu e meu esposo sempre discutíamos sobre qualquer assunto na frente deles e, às vezes, não nos controlávamos e acabávamos falando alto um com o outro. Isso não quer dizer que discutíamos muito. Falo de divergências de opiniões; sobre o fato de nem sempre concordamos um com o outro. O pior de tudo isso, é que eles tinham razão. Quantas vezes me propus a falar mais baixo ou calar-me num momento mais alterado com meu esposo? Quantas vezes prometi aos meus filhos que minhas atitudes mudariam dali para frente? Quantas vezes tentei?

Calei-me, passei novamente pela salinha onde estava a capelinha de Nossa Senhora e pedi perdão. Não a imagem da santinha, é claro. Pedi a mãe de Jesus! Não tinha condições de rezar. Não sabia o que dizer e comecei a chorar ali mesmo. Sai, fui novamente para meu quarto, deitei-me em minha cama e chorei. Dessa vez, chorei muito. Era como se eu estivesse nua e todos os meus pecados tivessem saído de dentro de minha alma e apontassem para mim rindo. Pareciam dizer-me: “Você é a culpada por teus filhos estarem perdendo o respeito para contigo; é tua a culpa! Pelos problemas que teu marido enfrenta hoje no trabalho; é tua a culpa! Pelos problemas financeiros; é tua a culpa! Por estares te sentindo culpada, sem forças e com tua fé abalada; é tua a culpa! Senti vergonha de quem eu era. Senti medo de não suportar o fato de que realmente era verdade o que me acontecia. Chorei! Minha cabeça doía. Meu esposo ao entrar no quarto e ver-me chorar em desespero falou algo e saiu batendo a porta. Ouvi berros na sala. Sabia que meu esposo estava bravo e gritava com meus filhos e, como sempre faziam, eles revidava – nada de socos, tapas, chutes. Isso jamais havia acontecido. Ouvi outra porta batendo com força. Ele havia saído de casa. Sempre que estava estressado, saia.

Nesse dia chorei tanto que acabei dormindo. Ao acordar, senti um arrepio em minhas costas. Começava dos dedos dos pés até a nuca. Parecia um sopro! Olhei para os lados e nada vi, mas tinha a sensação de que alguém me olhava. Comecei a rezar, ali, sentada em minha cama com os olhos inchados por causa do sono e do choro.

Não sei por qual motivo, calei-me. Comecei a repensar sobre meus atos, sobre minha forma de falar, de agir; sobre minhas atitudes diante das pessoas com as quais convivo diariamente. Será que tenho motivos para ter medo? Será que tenho motivos para deixar que os problemas me atinjam de tal forma que eu não consiga mais me situar no mundo? Será que meus filhos precisam esquecer que família é acima de tudo união porque eu, sua mãe, não estou conseguindo dar-lhes o exemplo do que realmente é ser família? Será que não estou deixando que eles me excluam de suas vidas porque por algum motivo, estou excluindo eles da minha? Será que meu esposo não é no momento, reflexo do meu momento? Será que minha fé é tão pouca que nem consigo ouvir o chamado do Senhor e tão pouco, compreender sua mensagem?

De repente percebi que orava! Orava em silêncio, mas de um jeito que jamais pude sentir antes. Sentia cada vez mais forte os arrepios em todo meu corpo. Não ouvia barulho em minha casa. Levantei-me não sei por que, sorrindo. Fui até a sala pensando estar sozinha. Meu esposo estava deitado no sofá grande, meus filhos espalhados pela sala em sofá, espreguiçadeira (um tipo de cadeira) e no chão. Viam um programa que falava sobre família: os reflexos das brigas e discórdias familiares (drogas, prostituição, assassinatos...).

Por:Siulene Dantas da Camara

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