Santa Vitória

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quinta-feira, 7 de abril de 2011

EDUCAÇÃO COMO MEIO DE REFLEXÃO!

Um dia, em sala de aula, percebi que meus alunos estavam calados demais. Pareciam sem motivação alguma para minha metodologia aplicada - que no caso seria teórica - na disciplina de Sociologia. Então deixei de lado meu material didático - caderno de planos ou roteiros de aulas, giz e pincel para lousa. Deixei-os a vontade, coloquei uma cadeira em frente às suas carteiras e comecei a conversar. Era uma aula de Sociologia no 2º Ano do Ensino Médio. Perguntei de modo geral o que estava acontecendo, já que aquela era uma turma ativa, participativa e cheia de projetos com metas futuras a serem alcançadas. Uma aluna de 16 anos educadamente levantou a mão e disse-me que não conseguia compreender bem o mundo. Ligava a televisão e só via desgraças acontecendo: São Paulo sendo alagada constantemente, sempre que chovia, por falta de políticas públicas que funcionassem de verdade dando moradia e condições de vida para os que vivem em situação de risco; Favelas e mais favelas por todo o Brasil! Pessoas vivendo em lugares onde não há saneamento básico e sendo alvo do preconceito de classes porque não lhes dão emprego e, muitos acham que não trabalham porque não querem; Merenda escolar, que deveria ser bem melhor do que é, e, deveria ser mandada diretamente para a escola, sendo desviada; Ministério da Educação falando em rede nacional, sobre a melhoria na educação, sobre inclusão, sobre a garantia de vagas em UNIVERSIDADES e FACULDADES para índios e negros... Isso não é preconceito? E querem fazer a gente de besta usando a televisão e a internet pra mostrar que está tudo bem! E os produtos importados dos Estados Unidos? Os produtos brasileiros são assim, tão valorizados quanto os estrangeiros?
Um aluno pediu para falar e disse que achava injusto cobrarem dos estudantes ética e responsabilidade se ao ligar a televisão ou ler um jornal, uma revista - o que não faz com muita frequência -, a primeira coisa que lê é sobre ministros, senadores, deputados, governadores, prefeitos ou vereadores que superfaturaram obras, esconderam dinheiro em malas ou em cuecas e mesmo assim, posam de bonzinhos elaborando projetos em benefício próprio. Ah, e pedem aumentos absurdos para si, enquanto os professores suportam o peso da culpa do fracasso da EDUCAÇÃO BRASILEIRA e ganham quase nada. Ainda! Dizem que nós eleitores somos os culpados por não fazermos a escolha certa. O que é uma escolha certa professora? Antes das eleições achamos que determinado candidato é O CERTO! Aí ele ganha e percebe que sua função não é ajudar aos outros, mas sim, a si mesmo. É essa sociedade que quer ser considerada um dia a primeira do mundo?
Todo o tempo fiquei calada ouvindo meus alunos e alunas falarem de suas dúvidas, incertezas. Ouvi-os questionando, argumentando, propondo mudanças. Apenas ouvi-os e nesse dia, me senti a professora mais feliz do mundo, pois percebi que esses jovens, de uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte, no Brasil, não serão absorvidos pelo capitalismo absoluto nem tão pouco, por políticas planejadas e elaboradas para fins próprios, como eles costumavam falar. Mesmo por quê, eles sabem que nem todos os políticos, nem todas as pessoas agem apenas em benefício próprio.
Hoje, esses jovens que me ensinaram tanto, estão no terceiro ano do Ensino Médio de uma escola pública que ensina aos seus alunos que cada um deles, individualmente, pode vencer qualquer barreira em busca de seu sucesso lá fora, no mundo.

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