Quantas vezes durante esses anos me senti presa e acorrentada nas confusões do meu subconsciente? Quantas e quantas vezes fui à missa num domingo apenas por obrigação e nada do que ouvia nas homilias tão comentadas pelas dezenas de cristãos me fazia refletir sobre minha condição humana?Talvez me sentisse assim por ter esquecido que nada era sem o amor de Deus. Acho que minha pequinez me fazia querer desistir dos meus ideais, dos meus sonhos. Sei que não era mais uma criança e talvez, por esse motivo, meu coração tenha se endurecido. Talvez eu tenha me transformado numa pessoa triste e fria, sem sentimentos. Não conseguia nas missas ouvir as palavras daquele bendito padre. Algo no seu olhar direto dizia que era comigo que ele falava em nome de Jesus Cristo, mas isso pouco me importava. Eu estava ali por ser católica e isso deveria bastar para todos. Era a minha única obrigação como mulher cristã. Também, não precisava provar nada para ninguém e ninguém, precisava me colocar a prova. Era eu ali, real, verdadeira com todos os meus defeitos. Queria de certa forma que algo novo acontecesse em minha vida para que minha mente fosse aliviada desse turbilhão de confusões da qual havia se tornado a minha vida. Assim! Jamais pensei em desistir dela - a vida sabe?, mas também não me parecia algo tão essencial. Vivia por ter que viver. Precisava ficar de pé para compreender afinal, até onde ia dar essa minha incerteza, indecisão... Confusão.De repente... Me vi olhando para aquele jovem e inteligente padre e percebi que ele dizia algo e olhava-me. Na verdade, a imagem que vi não foi a dele - do padre. Ele me olhava e falava coisas ao mesmo tempo, mas era como se outra pessoa insistisse em me fazer ouvir o que aquele homem, parado ali no altar, olhando para mim, dizia "É com você mesmo que quero falar!"... Me absorveu de tal forma que de repente, nada nem ninguém parecia existir naquela igreja. Apenas eu e Ele. A sensação que tive foi de estar flutuando em nuvens brancas ouvindo os sons das cítaras sendo tocadas por anjos e arcanjos no céu. O olhar me cativou e me fez afinal, ouvir a voz. Não sei dizer agora porque aconteceu comigo naquele dia, naquele momento e naquela igreja. Sei que para muitas pessoas pouco importava eu ser ou não cristã, mas aquela voz me dizia coisas tão bonitas de uma forma tão suave e profunda, com um respeito tão grande pela minha pouca fé - hoje sei o quanto era pouca - que me fez cair em êxtase profundo. Sei que não chorei, mas meu corpo virou pedra, minhas mãos gelaram e meu corpo inteiro passou por calafrios que subiam do dedão do pé até a espinha. Abri os olhos e vi no centro da igreja caminhando até a minha direção um homem vestido com um manto branco, cabelos compridos e feições morenas num rosto que transmitia carinho, amor, proteção e acima de tudo, parecia querer dizer-me que finalmente eu conseguira compreender o significado da "unção de Espírito Santo" em minha vida. Me vi sendo embalada por braços meigos e macios enquanto uma voz sedosa e feminina me dizia "filha, foi por ti que intercedi ao meu filho Jesus! Por ti, Ele ressuscitou dos mortos. Foi por te amar demais que hoje, Ele veio aqui. Jamais esqueça disso!" Hoje, vou às missas aos domingos e sento-me num dos bancos da frente, pois sei que Jesus vai dizer-me algo. Sei que Ele vai vir em minha direção e vai me fazer sorrir. Vai me fazer feliz. Hoje, não sou apenas uma mulher cristã, sou missionária do Reino de Deus. Tenho como intercessora Maria Santíssima. Com Ela e por Ela, me deixo levar nos braços de Seu Filho Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
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