Santa Vitória

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sábado, 23 de outubro de 2010

Carta de despedida de uma adolescente de 13 anos

"Quando eu morrer, espero que as pessoas não lembrem de mim apenas pelas burradas que dei. Não quero que lembrem de mim por que fui a "bonitinha", a "gostosinha", a "coisinha"... Não quero que lembrem de mim pelos palavrões horríveis que falei e tão pouco, pelas baladas, ou pela quantidade de carinhas que fiquei ou que transei.

Quando eu morrer, quero que lembrem de mim por tudo aquilo que eu não consegui conquistar: minha dignidade, meu amor próprio e o respeito dos outros para comigo. Quero que lembrem que o mundo não me deu oportunidade para mudar. As pessoas não me deixaram escolha, pois aqueles que eu pensava me amar foram me deixando de lado. Fizeram com que eu buscasse o caminho mais fácil. Quero que lembrem de mim como uma adolescente vitoriosa. É assim que me considero. Apesar das pessoas apontarem todos os meus erros e minhas falhas me considero vencedora. Não consigo pensar no momento, na quantidade de vezes que ouvi pessoas me dizendo pára tentar mudar, para buscar meu prumo certo pois ainda era jovem e tinho uma vida inteira pela frente. Quantas vezes ouvi pessoas dizendo: mulher, você não precisa viver assim! Um dia você encontra quem lhe dê valor. Quando? De que forma, se essas mesmas pessoas me viram a cara quando estou na pior?

Quando eu morrer, quero que as pessoas chorem não porque eu parti. Quero que chorem por arrependimento. Quero que chorem pelas vezes que apontaram para mim quando me viram na orgia e nada fizeram. Quando me viram caída no chão, na sargeta e não estenderam-me as mãos. Quando me acharam vulgar por estar saindo com um ou com outro e nada fizeram para me fazer uma adolescente consciente. Quero que chorem por não ter me abrigado, por não ter me dado um prato de comida... Pela falta de apoio.

Quando eu morrer, quero que lembrem daquela menina mulher tão nova que ao entrar na Igreja todos a olhavam com cara de desprezo, mas estava ali pela fé. Por acreditar que o único a lhe ouvir era Jesus, filho de Deus Pai. Quantas vezes ali, ao ouvir o padre falar nos sermões sobre o respeito ao corpo e alma meus olhos encheram de lágrimas e implorei ao Pai Seu perdão? Quantas vezes sai dali disposta a mudar e, infelizmente, não consegui ver a luz, não consegui renascer no espírito? Quantas vezes ao sair dali as pessoas continuavam a me olhar com nojo como se me achassem indigna de esar ali, na casa do Pai? Precisava mostrar para as pessoas que mesmo sendo uma menina eu era forte. Podia enfrentar a todos e a tudo. No fundo, eu estava me sentindo derrotada. Eu era a miserável que sabia que Deus me aceitava com todos os meus pecados, mas a humanidade ridícula e preconceituosa não me queria. Eu não era forte o suficiente para assumir minhas culpas, mesmo que parecesse não me incomodar.

Amanhã, quando vocês lerem essa cartinha, lembrem que era foi escrita por uma adolescente de apenas 13 anos de idade que deixou de acreditar nas pessoas. Que deixou de ter esperança e que num último instante de sanidade, pede para que vocês, adultos, olhem para os seus filhos como Deus pediu que Maria e José olhassem para Jesus. Não façam com eles o que alguns fizeram comigo. Não deixem esse mundo imundo e sujo tomar contar das vidas dos seus filhos se não quiserem que um outro dia, entreguem para vocês uma cartinha como a minha. Agora, só me resta pedir que não chorem amanhã. Lembrem apenas que a única coisa que eu queria de verdade, era ser amada, compreendida e respeitada. Agora, só espero que Jesus me acolha em seus braços e que compreenda que já não preciso mais ficar aqui. O mundo já não me quer mais. Agora, sei que ficarei nos braços do PAI".

Daquela que amou a vida e que a vida, desprezou.

Outubro de 2010

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