Santa Vitória

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domingo, 21 de novembro de 2010

APENAS DOZE REAIS

Há alguns meses atrás observávamos os romeiros que subiam e desciam o Santuário do Monte do Galo. Eles iam e vinham sempre com um sorriso nos lábios. Nem a alta temperatura os faziam desistir do percurso.
Num certo momento, uma senhorinha (baixinha e de certa idade) conversava com aquela que parecia ser sua filha aos pés da escadaria do Santuário. Aquela cena nos chamou a atenção, pois sua acompanhante insistia muito para que a mesma não subisse os degraus de cimento. Percebemos nesse instante que a senhorinha tinha problemas para andar. Estava descalça num Sol de 30% graus e, seus pés, estavam bem inchados e vermelhos, além de mancar bastante ao andar. Aquilo não parecia importar. Ela insistiu tanto que sua acompanhante acabou realizando seu desejo.
Continuamos a observar aquela cena, até então, sem nos movimentarmos. Aos pés das escadarias do Santuário havia vários "pedintes" (no lado esquerdo e no lado direito). A cada passo dado, a senhorinha parava um pouco para descansar e, em seguida, continuava com extremo esforço, sua caminhada. Ouvíamos os pedintes ali sentados de um lado e de outro da escadaria pedindo esmolas. Mendigando uma moeda. Talvez uns precisassem, outros, talvez pedissem apenas para alimentar um vício qualquer. Mas o caso aqui não são os pedintes. Não podemos julgar as necessidades e dificuldades de quem não conhemos. Aliás, não podemos agir dessa forma nem mesmo com aqueles que conhecemos. Voltando à senhorinha, ficamos a olhar.
Minutos depois, a senhorinha e sua companheira pararam no término da escadaria. Lá, a senhorinha tirou de dentro de uma bolsa velha uma sacolinha com algumas moedas e notas de dois reais. Pediu que sua acompanhante contasse o dinheiro amarrotado e lhe ajudasse a distribuir. Ela tinha 12,oo reais distribuídos em notas e pratas. Queria descer novamente as escadarias distribuindo os 12,00 reais da seguinte forma: 6,00 reais ela daria aos pedintes do lado direito e, os outros 6,00 reais daria aos pedintes do lado esquerdo. Sendo que a distribuição das esmolas deveriam ser realizadas assim: 2,00 reais para uma pessoa do lado esquerdo e 2,00 reais para uma pessoa do lado direito, até chegar aos pés da escadaria. Nesse momento, percebemos que a acompanhante não teria condições de descer as escadarias com aquela senhora idosa. As pernas da senhorinha pareciam não ter mais coordenação, já que havia feito um tremendo esforço na subida. Então resolvemos finalmente sair da posição de observação e ajudar. Chegando lá, um de nós pegou no braço esquerdo daquela senhorinha simpática (ela não aceitou que sua acompanhante a soltasse para que outra pessoa a segurasse do lado direito) e começamos a descida. Percebemos que a dor que aquela mulher sentia nas pernas era enorme, mas o que nos chamava atenção, era a alegria que ela parecia sentir ao distribuir aquelas moedas e notas aos pedintes.
Ao entregar sua moedas ao último pedinte, um menino de uns doze anos de idade, a senhorinha olhou para cima e disse: - Obrigada minha Santa Vitória! O que dou a essas pessoas é pouquinho, mas é o que posso dar. Isso eu faço para agradecer o que a Senhora fez por mim. As moedas e as notas são bem pouquinho perto das graças que acabei de alcançar. Agora vou pra casa feliz Minha Santa. Lisa, sem um centavo no bolso, mas feliz!
Chamamos sua acompanhante e perguntamos o porquê daquela atitute, já que doando seu pouco dinheiro, ela ficaria sem nada... A acompanhante disse-nos que sua mãe (afinal estávamos certos) já não conseguia andar há algum tempo. Suas pernas inchavam muito e as feridas apareciam com frequência.Veio ao Monte do Galo em uma cadeira de rodas, dentro de um ônibus lotado. Ao chegar em frente àIgreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro sentiu vontade de botar os pés no chão. Aí, percebeu que o milagre tinha acontecido. Naquele instante resolveu doar tudo o que tinha àqueles que tinham menos do que ela. Naquele instante, o que ela tinha no bolso era 12,00 reais e, a partir desse dia, enquanto viva fosse, ela havia decidido que todos os anos, no período da festa de Santa Vitória, ela viria com sua filha à Carnaúba dos Dantas, no Santuário do Monte do Galo e faria a mesma doação, da mesma forma como havia feito.
Santa Vitória: Rogai por nós.

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