Ele chegou para mim com olhar admirado, puxou-me pelo braço e disse-me:
- Tio, e você abraça ele assim, na frente de todos?
Sem compreender, virei-me para ele, um menino de uns treze anos de idade, aluno da escola onde leciono e disse-lhe:
- Claro que sim. Posso abraça-lo sempre que tiver vontade.
Ele, o menino, baixou a cabeça e saiu. Minutos depois, voltou para mim e, com olhar tímido, perguntou-me se poderia dar-lhe um abraço. No início não compreendi o motivo, mas depois ele contou-me que jamais tinha sido abraçado por sua mãe ou por seu pai. Falou-me que se por um acaso pedisse isso para um dos dois, apanharia. Aquilo deixou-me chocado, afinal, o que custa um abraço? Daquele dia em diante, todas as vezes que aquele menino me via, sorria e abraçava-me. Não era um abraço qualquer. Era o abraço de quem não sabe o que é carinho. De alguém que precisa ser amado e, de alguém que precisa de uma mão segurando a sua. O abraço de alguém que pede socorro.
Esse adolescente acabara de chegar de uma das maiores e mais perigosas favelas de Natal. No primeiro dia, todos o olhavam com medo, com receio de que ele fosse aprontar algo.
Ele chegou de mansinho surpreendendo a todos por seu geito sereno e manso de ser. Educado, amigo, colega, simpático, foi conquistando a todos na escola. Um menino muito inteligente e participativo. Estava sempre indagando, fazendo perguntas sobre tudo. Um anjo de olhar triste, apesar da alegria que exteriormente, transmitia. Sua família... Totalmente diferente, sem estrutura. Pessoas que pouco importavam-se em saber como ele sentia-se. Ali, ele via tudo o que o mundo profano tinha a oferecer-lhe: bebidas, drogas, prostituição... E dizia-me um dia, que queria sair dali. Queria poder sair para mudar aquela situação. Queria uma família de verdade.
Alguns meses após sua chegada , acostumamo-nos com sua presença. Sabíamos que em casa nada estava bem. Seu irmão mais novo (onze anos de idade) já roubara várias peças de bicicleta (bicicletas também). Seu pai e sua mãe não estavam bem (viviam brigando entre bebedeiras e consumo de drogas). O mais incrível, é que isso fazia com que ele estudasse ainda mais e seu desejo de ser alguém na vida, aumentasse.
O menino queria morar ali, na escola onde estudava. Ele encontrou naquele espaço tudo o que não encontrara em casa.
O tempo continuou a passar e, um dia, ele simplesmente sumiu. Não apareceu mais na escola. Não me procurou mais em casa. Sumiu! Ficamos sabendo que fugiu, pois sua família decidira ir embora de nossa cidade. Ele não acitava essa decisão, mas era obrigado a ir com os pais, caso ficasse. Era de menor, não poderia desobedecer.
Hoje, sempre que vejo nas telas de televisão meninos e meninas de rua, crianças espancadas pelos pais ou molestadas... Lembro-me daquele menino. Hoje, como professor, percebo que meu aluno é como um filho: precisa de carinho, compreensão, conforto, mão amiga e respeito. Assim, respeitando as diferenças, posso fazê-lo compreender seu papel importante na sociedade e, ajudá-lo a vencer as barreiras. Ele não sabe, mas quando ele me pediu um abraço, era eu quem estava precisando de um. Quando ele disse que gostaria de ser meu filho, eu não estava conseguindo ser pai. Foi aquele menino quem me ajudou a recuperar minha dignidade de mestre, esposo , pai e ser humano. A ele, agradeço pela mudança na minha vida. Onde quer que esteja, o abraço do PAI, nosso Deus, esteja contigo.
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