"Nunca os meus olhos haviam visto tanta beleza espraiada no rosto de um recém-nascido. Mas como tu eras belo, David! De uma beleza tão grande que não cabia nas máquinas fotográficas nem em câmaras de filmar. Mas conseguirá toda essa beleza ofuscar tanta dor e tanta angústia? Conseguirá essa beleza compensar todo o sofrimento que invade todos os recantos de uma mente acabada de ser mãe? Foram tantas perguntas que correram em busca de respostas. Tantas noites escuras à espera do amanhecer. Uma alma aparentemente destruída em busca de algo ou de alguém que lhe apanhasse os destroços e a fizesse regressar à normalidade da vida" (contracapa).
Porque choras, mamã?, de Joana Leitão, do Sítio do Livro, onde pode ser adquirido via internet, é um testemunho envolvente, de uma mãe à beira do desespero, cuja depressão se acentua com o nascimento do filho, mas que já se vinha a desenvolver com a gravidez, muito desejada.
Várias perguntas: como podem conviver sentimentos tão diversos, como foi possível chegar àquele fosso? Porque é que os amigos se afastam, porque é que não compreendem? Será louca esta mãe? Grita ou silencia? Porque é que ninguém ouve os seus gritos? De onde brotam tantas lágrimas, quando deveriam ser momentos de grande alegria?
É uma leitura impressionante, intensa, que se lê de uma acentada, num texto claro, agradável, muito bem escrito, e com conteúdo, com interrogações que nos ficam presas à garganta. Será possível compreender uma pessoa que caiu em depressão?
"Uma depressão é como um cancro, 'pode acontecer a qualquer pessoa, ninguém está imune'. Eui chamei-lhe o cancro da alma. A verdade é que assim é: tal como um cancro, ela deixa marcas. Ficamos frágeis e arriscamo-nos a recaídas... 'As portas ficam sempre abertas'. Ah! Se eu pudesse fechar as portas e perder as chaves...!
"Sei hoje que é possível viver momentos felizes, porque a vida é feita de momentos. Momentos em que o sol brilha e momentos chuvosos e nublosos. Durante a nossa estadia terrena atravessamos por diversas vezes a escuridão da noite e a claridade diurna. se pudermos dormir durante a noite... tanto melhor!
Quanto ao resto, sempre acreditei que se as lágrimas não nos deixam ver o sol, temos de as limpar; pelo menos poderemos ver as estrelas.
...para que se possa acreditar que da noite se pode fazer luz, e que a luz poderá ser um crespúsculo mais sereno ou um amanhecer amaciado pelo Amor".
É uma leitura a não perder, para mães, que podem sentir a presença dos filhos de maneira tão diversa, para pessoas que passaram/passam por momentos depressivos ou depressões profundas, para quem gosta de ler e para quem quer ler textos mais suaves e de fácil compreensão, para quem gosta de se interrogar e quer conhecer a alma das pessoas.
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